HISTÓRICO


História da Arte Marcial Louva-a-Deus 

A invenção e desenvolvimento do estilo Louva-a-Deus do Norte  Escola de Boxe  Chinês                                                                                                                                                                     
Original escrito por: Grão-Mestre Wong Hon Fan
Tradução e complemento para o Inglês por: 
Mestre Tony Chuy - www.northernmantis.com
Traduzido do Inglês para o Português por: Augusto Andraus - estudante do Nível Avançado - Sede Oficial Campinas

Ao final da Dinastia Ming (meio do século XVII), viveu um nativo de Shantung conhecido como Wong Long. Ele era um homem muito patriótico, e como o governo Ming estava prestes a ser deposto, ele sempre estava pensando em abdicar de seu corpo e alma para a defesa de seu país. No entanto, suas tentativas sempre foram fúteis e seu entusiasmo rejeitado. Então, ele retirou-se para a Montanha Sung e praticou artes marciais no Templo Shaolin, na esperança que um dia isto o ajudaria.
Quando os soldados de Ching tomaram o poder na China, Wong pensou que este era o momento de se voluntariar e oferecer seus serviços. Entretanto, ele não encontrou nenhuma posição disponível no governo ou no exército. Então, ele retornou ao Templo Shaolin e planejou lutar com forças de guerrilha contra o regime vigente. Infelizmente, seus planos foram descobertos pelos soldados, mas graças à sua habilidade superior, artimanhas e ajuda de colegas, Wong escapou acompanhado de seu instrutor. De maneira a evitar serem capturados, eles tomaram o caminho para as Montanhas Ngo-Mei e Kwan-Lun, eventualmente chegando à Montanha Lao, na província de Shantung.
Após algum tempo, o Sifu de Wong Long faleceu devido à idade avançada e nenhum de seus colegas o sucedeu em seu lugar como instrutor. Para passar o tempo, Wong lutava amigavelmente com seu irmão mais velho de treino, tanto com mãos-vazias, bem como com armas. O irmão de Wong era mais habilidoso e consequentemente Wong era sempre derrotado.
Três anos rapidamente se passaram. Bem preparado, Wong combateu novamente seu irmão mais velho, e perdeu. Agora, Wong sentiu-se tão envergonhado pensando até em se matar. Então um dia, o irmão mais velho de Wong decidiu viajar e passar algum tempo passeando pelo país. Quando estava saindo, ele disse para Wong treinar muito, pois esperava ver grandes avanços nas habilidades de Wong, ao retornar.
Em um dia quente, Wong sentiu-se entediado em seu confinamento. Então ele pegou sua espada, alguns livros e foi para a floresta. Assim que ele se refrescou e começou a virar as páginas de um dos livros, ele ouviu alguns silvos. Os sons pareciam até desesperados. Wong olhou para cima, e viu em uma árvore alta um louva-a-deus e uma cigarra travando um combate mortal. Utilizando seus fortes membros, e suas garras em forma de gancho, o louva-a-deus atacou a cigarra violentamente. A batalha logo acabou, e a cigarra caiu morta.
Uma idéia passou pela mente de Wong. O louva-a-deus lutou de maneira engenhosa, o timing de seus avanços e fugas foi perfeito; ele utilizou ataques de longa distância e técnicas de aproximação corretamente; ele agarrou e soltou metodicamente. Wong pensou: “isso não lembra técnicas de luta?”. Então, Wong capturou o louva-a-deus e o trouxe de volta ao templo. A partir daí, Wong provocou o louva-a-deus todos os dias com um pequeno graveto. Simultaneamente, ele observou cuidadosamente suas reações.
Sendo um homem analítico e inteligente (e um perito em diversos estilos de artes marciais), Wong logo formalizou que o louva-a-deus utilizava-se de doze métodos principais para ataque e defesa, que hoje são conhecidos como as doze palavras-chave do estilo Louva-a-deus.

12 PALAVRAS – CHAVE

NGOU, LOU e T´SAI. Individualmente, seus significados são, respectivamente: enganchar, agarrar e arrebatar. Quando as três palavras são utilizadas de maneira combinada, os movimentos de fato, são enganchar, agarrar e atacar. A quarta palavra-chave é KWA, que neste caso significa um bloqueio para cima. A quinta e a sexta palavras-chave são DIEW e JHIN que significam interceptar e avançar. A sétima e a oitava palavras-chave são DIEW e DAH, que conjuntamente significam enganchar e atacar. A nona e a décima palavras-chave são JIMM e NEEN, e seus respectivos significados são aderir e colar, refletindo princípios de luta de contato próximo. A décima primeira e a décima segunda palavras-chave são TIPH e K´AO, significando grudar e se reclinar sobre alguém. Wong então pegou as melhores técnicas de dezessete outras escolas de boxe chinês da época, combinando-as em um único e conciso estilo, conhecido desde então, como Louva-a-deus.
Quando o irmão mais velho de Wong retornou, três anos mais tarde, ele novamente lutou com Wong. Desconhecendo do grande avanço das habilidades de Wong, ele foi arremessado diversos metros durante o combate. Surpreso, ele perguntou para Wong a razão por trás de tal habilidade. Wong contou-lhe então tudo que havia acontecido. A partir de então, eles praticaram juntos mais do que nunca, refinando a arte, que então atingiu um nível superior. Dessa maneira, o estilo de Boxe Chinês Louva-a-deus foi concebido.
Algumas décadas depois, tanto Wong, como seu irmão mais velho de treino morreram, mas a arte marcial do estilo Louva-a-deus não se perdeu. Na verdade, ela foi ensinada aos monges no templo e foi aprimorada a cada geração. No entanto, a arte estava limitada apenas aos monges do templo, até que um monge Taoísta conhecido pelo nome Sing Siew chegou neste mesmo templo durante suas viagens pela China. Ele aprendeu então a arte com os monges locais.
Após Sing Siew deixar o templo, ele ensinou então a arte a Lee, Sarm Jin. Após Lee aprender todo o sistema, ele estabeleceu um serviço de escolta na China. Por uma determinada taxa, o serviço asseguraria o transporte de mercadoria valiosa para seus clientes. O serviço de Lee era conhecido pela sua confiabilidade e segurança por todo norte da China. O próprio Lee era conhecido entre os ladrões da região como “mãos-de-relâmpago”, e ninguém conseguia derrotá-lo.
Quando Lee tornou-se mais velho, não havia quem ele pudesse ensinar a arte que lhe havia trazido tanta fama e prosperidade, pois ele não tinha nenhum filho. Então ele viajou a muitos lugares, procurando por alguém com treinamento básico suficiente para herdar a arte do Louva-a-deus. Ele não se desapontou. Um dia, enquanto viajava pela Montanha Fook, ele ouviu falar de um homem chamado Wong, Wing Sung que foi o campeão nacional de boxe naquele ano. Então Lee visitou Wong e pediu uma demonstração das habilidades que o tornaram vitorioso no campeonato. Após ver a demonstração de Wong, Lee riu, e disse que tais técnicas não deveriam ter vencido um campeonato. Wong ficou colérico e tentou atacar Lee. Lee pareceu desaparecer no ar. Wong ouviu risadas, e virou-se para agarrar Lee, mas sua tentativa foi em vão. Na verdade, Lee prendeu completamente Wong, que ficou incapaz de se mover. Percebendo que ele não era páreo para o ancião, ele pediu que Lee se tornasse seu professor. Nos anos que se seguiram, ele aprendeu sem restrições tudo que seu professor sabia.
A família de Wong era bastante rica, então ele não se preocupava com dinheiro, nem se preocupou em exibir sua arte para estrangeiros, ele apenas praticava por recreação. No entanto, durante seus últimos anos, ele decidiu ensinar a arte para Fahn Yook Tung.
Fahn era um homem enorme, pesando mais de 130 quilos, e consequentemente era conhecido como “Gigante Fahn”. Ele também era perito na técnica de palma de ferro. Certa vez, Fahn estava caminhando pelos campos, quando encontrou dois touros lutando. Vendo Fahn, os touros assumiram que Fahn era um invasor e o atacaram. Quando o primeiro chegou, Fahn colocou toda sua força em sua perna direita e chutou o touro no abdômen. O touro, apesar de seu tamanho, caiu de uma vez. O segundo touro foi tratado com a mesma ferocidade. Fahn pegou-o pelos chifres com a mão esquerda, e o atingiu com força com a mão direita, matando dessa maneira o segundo touro também. O fazendeiro, proprietário dos touros, pediu a Fahn uma quantia em dinheiro como compensação pelos animais mortos, mas Fahn argumentou que agiu apenas em defesa própria, então o impasse se resolveu.
Então, o nome de Fahn se espalhou por toda China. O começo da década de 1870, alguns russos requisitaram que Fahn participasse em um campeonato de boxe na Sibéria. Se não fosse pelos seus diversos amigos (que forneceram recursos financeiros), ele não poderia ter ido. Quando Fahn lá chegou, ele derrotou o campeão local, bem como os outros desafiantes. Ele retornou vitorioso para a China e com muita glória. Infelizmente este incidente praticamente não ficou conhecido fora da China, por conta dos parcos meios de comunicação da época.
Em 1919, o comitê da Associação Atlética Jing-Mo (Chinwoo) de Shanghai ficou estarrecido pela perfeição desta escola de Boxe Chinês, portanto, o comitê enviou um emissário a Shantung para pessoalmente escoltar o Sr. Fahn a Shanghai, para ensinar a arte. No entanto, o Sr. Fahn recusou o convite, devido a sua já avançada idade. Em seu lugar, ele enviou dois de seus discípulos para representá-lo na Associação Atlética Jing-Mo. Eles eram Wong, Wai Sun e Law, Gwong Yook. Wong, Wai Sun ficou responsável pela divisão de Shantung da Associação Atlética Jing-Mo, no entanto, ele não se acostumou com a vida urbana e acabou retornando para sua terra natal. Law, Gwong Yook (cujo apelido era “quarto tio”) começou seu aprendizado sob a tutela do Mestre Fahn em tenra idade. Ele era famoso por seu Teet Sah Jeung (Técnicas Palma-de-Ferro) e Law Hawn Gung (uma forma de energia interna do Louva-a-deus).
Em 1929, um campeonato de Boxe Chinês foi organizado em Nanking. Um dos melhores alunos de Law, chamado Ma, Shing Garm representou Shanghai no campeonato, ganhando o primeiro prêmio. Seu nome, bem como de seu professor apareceram nas manchetes de todos os jornais de Shanghai.
Alguns anos depois, Law foi enviando pela a Matriz da Associação Atlética Jing-Mo, para inspecionar a organização da associação nas províncias do Sul, notavelmente em Hong Kong e Macau.
Mestre Law ensinou em Hong Kong até o começo da guerra, quando ele decidiu retornar para sua província natal, Shantung. Mestre Wong, Hon-Funn (um discípulo de “portas fechadas” do Mestre Law) carregou a missão de promover o estilo Louva-a-deus após o retiro de Mestre Law. O Mestre Wong, Hon-Funn treinou muitos alunos em Hong Kong durante os quarenta anos de sua carreira. Ele se aposentou em 1972, e faleceu em dezembro de 1973. Ele foi famoso e obteve muita reputação ensinando Louva-a-deus em Hong Kong.

ADENDO

Dentre os discípulos de Wong, Hon-Funn, vinte e cinco foram certificados a ensinar. Um desses discípulos foi o Grão-Mestre Brendan Lai, que ensinou em São Francisco, USA. Grão-Mestre Lai foi um dos precursores a promover as artes marciais chinesas nos Estados Unidos, nas décadas de 60 e 70. Ele também patrocinou diversas apresentações e torneios. Grão-Mestre Lai foi selecionado como um dos "Dez Melhores Instrutores" nos Estados Unidos pela Inside Kung Fu Magazine. Grão Mestre Lai faleceu no dia 23 de Setembro, de 2002 e deixou o seu legado com os seus discípulos nos USA e Brasil.
Desde a invenção do Boxe Louva-a-deus até hoje, passaram-se mais e 3 séculos e meio de história. Com o refinamento e aprimoramento contínuos desta arte, ela se tornou um dos sistemas de Boxe Chinês mais eficiente e completo da atualidade.
Nota: Todos os nomes deste artigo foram traduzidos para a pronúncia cantonesa. Outras publicações podem traduzi-los utilizando outros dialetos chineses.

Fonte: www.brendanlai.com